sábado, 5 de janeiro de 2013

j'aime moi


sou sujo e nojento
tenho asco de ser
quero ver o além
mas so ao aquém
pertence o meu viver

verdade da mentira


mais um poema...
sem ser original no tema
mais um segredo...
que encerro cá dentro com medo
mais um sentimento reprimido
impossivel de demonstrar
impossivel de provar...
aqui deprimo para la fora sorrir
aqui me escondo para la fora me descobrir
detesto-me pelo que faço
adoro-me pelo que sou
o meu coraçao é cego
pois não vê por quem bate...
bate sempre contra a corrente
bate por quem merece
mas por quem nao sente
o que sinto...sendo por isso
um sentimento jamais mútuo
um sentimento forçadamente curto
é mais importante um amor fraternal
do que um simples amor passional
abdico o que sinto pela normalidade
abdico tambem pela amizade
essa fez-me mais feliz
que qualquer outro amor fará
deu-me razoes para sorrir
sorrisos que outro amor não trará
e serei feliz enquanto reprimir
sentimentos destes que irei ainda ter
serei feliz nos dias que hão de vir
se a amizade conseguir manter

o sinal



Um sinal de aviso
Tão oportuno, tão preciso
Tão visto como ouvido
É tão ignorado e desapercebido
Tão procurado e desejado,
No entanto, improvável de ser encontrado

O sinal está à vista, é claro e visível
É uma luz ofuscante, e perceptível
Mas a visão é torpe e a mente obscura
O desejo é cego e a ansiedade é dura
Por tudo isso o sinal passa, sem… sinal
É interpretado como algo vulgar
Tudo é semelhante mas nada é igual
Os desafios são difíceis de aceitar
Os riscos impossíveis de tomar
Enfim, o conformismo é fatal
A indecisão é desilusão, é mal
É uma prisão de talentos e inteligência
Onde se vive na própria negligencia
Onde se nega o próprio intelecto
Pior ainda, a própria existência

Estou encarcerado por vontade e sem vontade
Sinto-me preso sem saber a verdade
Conheço tantos caminhos, não conheço prioridade
Há tantos destinos, tanta variedade
Tantos futuros visíveis mas não visam a realidade
Quero encontrar-me e sair desta bifurcação
Quero poder optar pelo poder da razão
Há sempre escolha nem sempre há juízo
E por isso peço pelo aclamado sinal de aviso
Quero sair desta cegueira, desta ignorância
Desta prisão de indecisão e insegurança
Quero explorar este mundo meu
Quero saber para onde vou e que quero eu
Quero descobrir potencialidades
Quero encobrir impossibilidades
Quero escrever, representar e pintar
Quero desenhar casas, heróis e também cantar
Quero ser independente financeiramente
Quero ser poliglota e viajar de continente em continente
Quero superar expectativas minhas e de toda gente
Quero provar enfim que sou competente
Quero fazer mais de mim próprio e ser confiante
Quero mais tempo para crescer e ser importante
Quero tudo isto para ser contente
Só assim serei feliz
Tendo tudo o que sempre quis
Tendo tudo o que preciso
Tendo por fim…aquele sinal de aviso...

o só



ele anda por aí
sem rumo nem destino
ele passa por ali
ao ritmo simples de um sino
ele anda por cá
sem rasto, despercebido
ele passa por aqui
só, abandonado e perdido...

ele olha nos olhos
de todos os que passam,
mas por todos não é visto
simplesmente nele... os olhares trespassam...
perfuram, atravessam sem dó nem piedade
"por que razão são eles tão crueis e cheios de maldade?
"serão eles vitimas de ódio e inimizade?"
pergunta-se e mais perguntas faz
é uma questão de equilibrio e paz
questiona-se sobre tais olhares
sobre golpes malignos e de maus ares
saidos de olhos vidrados de egoísmo
são olhares de ódio para ele não dirigido
é ódio partilhado por todos, mas por ele sentido
será ele fantasma por não se conseguir ver?
ou seremos nós cegos por dele não querer saber?
estupidez é cegueira não há desculpa para tal
é algo por nós esquecido e é tão grande o Mal
o erro, o equívoco, quiçá fatalidade
por não querer ver mais que tudo
a mais simples e pura verdade...

somos todos fantasmas sem consciência nem saber
somos todos vistos sem os outros querer ver
somos todos trespassados sem piedade nem dó
não passamos todos... de um simples ser só...

palha


em nada se sente a necessidade de ter
em nada reside o saber de querer saber
porque é no nada que se vive
quando tudo se deseja e quer
é o nada que nos preenche o vazio
de sentir, de viver, de olhar e até de morrer
há que sempre assumir a posse nula
para assim se poder ganhar não um todo, mas algo...

à minha procura


fui, olhei, não fiquei e voltei
voltei pra saber que não gostei
voltei para dizer que cheguei
tampouco quis ficar e parti
rumo à bifurcação onde parei
ouvi, vi, li e senti
os sinais não evidentes
o meus passos pendentes
passos que à estrada dei
e ao meu rumo entreguei
e naquela bifurcação
a tal onde parei em vão
acabei por olhar para trás
e meia volta acabei por dar
para voltar para onde...
onde quer que seja o meu lugar

here in my room



é aqui
que me refugio
onde fujo para pensar
e sentir o meu vazio
um vazio de morrer
que parece nao perecer
que se vislumbra sem se ver
um momento de paz tao dura
que me tortura e satura
onde a dor perdura
nesta minha mente obscura
vagueia nas filosofias
lembra lamúrias
e recorda amarguras,
as passadas e presentes,
de todas aquelas vezes
que sofri sem poder sentir
um único alento, um unico apreço
um único travo do aroma que mereço,
e o que mereço eu?
apenas o que me cerca
não "tudo" para que não o perca
quem "tudo" tem, por "tudo" peca
mais vale o nada e o seu cheiro ouco,
pálido e sombrio que me protege
que me guarda e reduz
aos confins das quatro paredes
que delimitam o poder da luz
é aí que vivo e resido
longe do humano resíduo
que contamina "tudo" o ambíguo
não vendo para além de si,
do proprio nariz ou do seu umbigo...

não quero viver esse mundo já
muito cedo, e maduro não estou
mas farto e tarde para lá vou...
até lá viverei a metamorfose,
a calma simbiose
do viver-saber viver,
e enquanto não o fizer,
ou por algum motivo não o puder...
é no meu quarto, pequeno meu quarto
que irei nascer, viver e com sorte morrer...

defeitos inatos



impaciência... um dos meus muitos defeitos veio mais uma vez à superfície. Ao que parece o tempo que permaneceu nas profundezas da minha ignorância não contou como férias. Merda... constantes ataques de pânico, hiperactividade nervosa e para completar o magnifico pack... hiperventilação! yupi!... tudo porque preciso de falar constantemente com alguém que me queira constantemente aturar, como não tenho coragem para abordar as pessoas que gostaria que carregassem esse fardo... fico a pensar em bosta. Mergulho na imensa lagoa de sentimento auto-depreciativos e no grandioso oceano de insegurança... patético isto de ser (e aí vem mais um hiper) hipersensivel e hiperinseguro! (afinal foram dois)... vou-me retirar e vou sentir pena de mim próprio, não é algo louvável ou saudável... é reprovável aliás, mas parece ser a única coisa que consigo fazer como deve ser... inté

maldita lagrima



hoje peguei em mim e chorei. não sei porquê, senti um peso tão grande e que queria tão desesperadamente sair, que não aguentei, não houve força que mantivesse esse algo pesado lá dentro... andei a suprimir tristeza! qualquer sentimento suprimido corre o risco de sair de maneira indesejada, o mesmo se aplica à tristeza. há que respeitar o que se sente, o que não acontece com a frequência recomendável, talvez mesmo, sem qualquer frequência. e tenho andado a não sentir-me triste durante algum tempo, o que me parecia óptimo... até pensar que pareço um mongo cuja face está presa! o que quero acaba por ser o que não necessito e quando quero o que necessito aparece-me o que quero! mas que merda vem a ser esta? a lei de Murphy dá-me cabo do juízo e começo sinceramente a ficar farto disto... pensar, existir, tudo! não tou a pensar em matar-me atenção! mas se por acaso houvesse um botão 'suspender temporariamente' não diria que não clicava... sinto-me doente e por muito que procure, o remédio não me é visível...ou não o quero ver

cenas que fazem pensar #6


-Henry Wotton
-Dorian Gray

You really
must not allow yourself to become sunburnt. It would be unbecoming.’
‘What can it matter?’ cried Dorian Gray, laughing, as he sat down
on the seat at the end of the garden.
‘It should matter everything to you, Mr Gray.’
‘Why?’
‘Because you have the most marvellous youth, and youth is the one
thing worth having.’
‘I don’t feel that, Lord Henry.’
‘No, you don’t feel it now. Some day, when you are old and wrinkled
and ugly, when thought has seared your forehead with its lines, and
passion branded your lips with its hideous fires, you will feel it, you
will feel it terribly. Now, wherever you go, you charm the world. Will
it always be so? . . . You have a wonderfully beautiful face, Mr Gray.
Don’t frown. You have. And Beauty is a form of Genius – is higher,
indeed, than Genius, as it needs no explanation. It is of the great facts
of the world, like sunlight, or spring-time, or the reflection in dark
waters of that silver shell we call the moon. It cannot be questioned.
It has its divine right of sovereignty. It makes princes of those who
have it. You smile? Ah! when you have lost it you won’t smile. . . .
People say sometimes that Beauty is only superficial. That may be so.
But at least it is not so superficial as Thought is. To me, Beauty is the
wonder of wonders. It is only shallow people who do not judge by
appearances. The true mystery of the world is the visible, not the
invisible. . . . Yes, Mr Gray, the gods have been good to you. But what
the gods give they quickly take away. You have only a few years in
which to live really, perfectly, and fully. When your youth goes, your
beauty will go with it, and then you will suddenly discover that there
are no triumphs left for you, or have to content yourself with those
mean triumphs that the memory of your past will make more bitter
than defeats. Every month as it wanes brings you nearer to something
dreadful. Time is jealous of you, and wars against your lilies and your
roses. You will become sallow, and hollow-cheeked, and dull-eyed.
You will suffer horribly. . . . Ah! realize your youth while you have it.
Don’t squander the gold of your days, listening to the tedious, trying
to improve the hopeless failure, or giving away your life to the ignorant,
the common, and the vulgar. These are the sickly aims, the false ideals,
of our age. Live! Live the wonderful life that is in you! Let nothing be
lost upon you. Be always searching for new sensations. Be afraid of
nothing. . . . A new Hedonism – that is what our century wants. You
might be its visible symbol. With your personality there is nothing you
could not do. The world belongs to you for a season. . . .The moment
I met you I saw that you were quite unconscious of what you really
are, of what you really might be. There was so much in you that
charmed me that I felt I must tell you something about yourself. I
thought how tragic it would be if you were wasted. For there is such a
little time that your youth will last – such a little time. The common
hill-flowers wither, but they blossom again. The laburnum will be as
yellow next June as it is now. In a month there will be purple stars on
the clematis, and year after year the green night of its leaves will hold
its purple stars. But we never get back our youth. The pulse of joy that
beats in us at twenty, becomes sluggish. Our limbs fail, our senses rot.
We degenerate into hideous puppets, haunted by the memory of
the passions of which we were too much afraid, and the exquisite
temptations that we had not the courage to yield to. Youth! Youth!
There is absolutely nothing in the world but youth!’

 "The Picture of Dorian Gray" (novel, 1891)

a razão de existir de um poeta é..


escrevo...
escrevo por escrever
escrevo por prazer
por não ter o que fazer
e mesmo com trabalho
continuo a escrever

escrevo...
escrevo mais
escrevo demais
sobre sentimentos e coisas tais
sobre tudo e todos
sobre mim e temas desiguais

escrevo...
escrevo sobre o que penso
escrevo sobre o que pensei
escrevo quando estou tenso,
quando estive tenso, logo relaxei,
quando relaxei pensei sobre o que vi
pensei sobre o que senti
e sobre o que senti... logo escrevi

cenas que fazem pensar #5


Agent Smith: Why, Mr. Anderson? Why do you do it? Why get up? Why keep fighting? Do you believe you're fighting for something? For more than your survival? Can you tell me what it is? Do you even know? Is it freedom? Or truth? Perhaps peace? Yes? No? Could it be for love? Illusions, Mr. Anderson. Vagaries of perception. The temporary constructs of a feeble human intellect trying desperately to justify an existence that is without meaning or purpose. And all of them as artificial as the Matrix itself, although only a human mind could invent something as insipid as love. You must be able to see it, Mr. Anderson. You must know it by now. You can't win. It's pointless to keep fighting. Why, Mr. Anderson? Why? Why do you persist? 
Neo: Because I choose to. 

cenas que fazem pensar #4

The Architect: Humph. Hope, it is the quintessential human delusion, simultaneously the source of your greatest strength, and your greatest weakness.

parte 1

ora bem como hei de começar? alguns dir-me-iam: 'pelo início ó meu grande estúpido!'. vou seguir o conselho que embora tenha sido rude e inapropriadamente pérfido, faz sentido. tudo começou com o regresso do meu pai. o regresso a portugal após seis anos de ausência. foi só mas só ele não veio. trouxe alguém. alguém que eu viria a chamar de mãe ou mã, como hoje tendencialmente digo. o festejo do regresso não incitou à festa mas sim à 'festa'. uma bela duma concepção teve lugar essa noite. nove meses e qualquer coisa depois... pumbas! nasce um puto ranhoso que felizmente não foi baptizado de Anthony mas sim de Ricardo. se me chamasse Anthony, provavelmente o meu segundo nome seria Suicídio. enfim, prosseguindo. fui feliz enquanto ignorante e inocente, fui um puto fofo e sortudo, vivi aventuras em território nacional e além fronteiras, só eu o meu pá e a minha mã. tínhamos pouco mas o pouco era nosso, não havia nada dividido por bancos seguradoras e micro-créditos... pobres, mas não de espírito. os meus amigos eram meus segundos pais, estes que aproveitando toda a possível ocasião para uma reunião, festejavam sempre comigo o meu aniversário. eu ficava com os doces da piñata, enquanto eles agiam como tendo a minha idade na altura, a partiam com risos, gargalhadas e bastante cerveja... esta altura sim, era feliz, tinha um contrato a longo prazo com a felicidade e com a infância. hoje em dia o contrato é renovado de mês a mês e nem sempre tenho tempo para o assinar. este regresso nostalgico é feito com amargura... pelo menos neste preciso momento. até já.

cenas que fazem pensar #3


Agent Smith: I'd like to share a revelation that I've had during my time here. It came to me when I tried to classify your species and I realized that you're not actually mammals. Every mammal on this planet instinctively develops a natural equilibrium with the surrounding environment but you humans do not. You move to an area and you multiply and multiply until every natural resource is consumed and the only way you can survive is to spread to another area. There is another organism on this planet that follows the same pattern. Do you know what it is? A virus. Human beings are a disease, a cancer of this planet. You're a plague and we [the machines] are the cure. 

"The Matrix"  (1999)

sailing to the moon



eu quis, não tive
eu fiz, em nada deu
foi lá que estive
pois sei que lá vive
onde nada é meu
pois a mim não cedeu

sou sonso, ingénuo
não sei o que dizer
sou parvo, idiota
por não saber o que fazer
o que disse nada fez
o que fiz nada trouxe
como hei eu de ser,
para que um sorriso em mim queira nascer?
procuro a resposta que não tenho
nos demais e não em mim
a resposta que procuro
procuro em ti... enfim
és todos e tudo mais
não sendo nada demais
és o que basta e mais não digo
porque sou besta que fala sem sentido

cenas que fazem pensar #2


O artista é o criador de coisas belas.
O objectivo da arte é revelar a arte e ocultar o artista.
O crítico é aquele que sabe traduzir de outro modo para um novo material a sua impressão de coisas belas.
A mais elevada, tal como a mais rasteira, forma de crítica é um modo de autobiografia.
Os que encontram significações torpes nas coisas belas são corruptos sem sedução, o que é um defeito.
Os que encontram significações belas nas coisas belas são os ocultos: para esses há esperança.
Eleitos são aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza.
Um livro moral ou imoral é coisa que não existe. Os livros são bem escritos, ou mal escritos. E é tudo.
A aversão do século XIX pelo Realismo é a fúria de Caliban ao ver a sua cara no espelho.
A vida moral do homem faz parte dos temas tratados pelo artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. Nenhum artista quer demonstrar coisa alguma. Até as verdades podem ser demonstradas.
Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um maneirismo de estilo imperdoável.
O artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo.
O pensamento e a linguagem são para o artista instrumentos de arte.
O vício e a virtude são para o artista matérias de arte.
Sob o ponto de vista da forma, a arte do músico é o modelo de todas as artes. Sob o ponto de vista do sentimento, é a profissão de actor o modelo.
Toda a arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo. Os que penetram para além da superfície, fazem-no a expensas suas. Os que lêem o símbolo, fazem-no a expensas suas.
O que a arte realmente espelha é o espectador, não a vida.
A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte revela que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos divergem, o artista está em consonância consigo mesmo.
Podemos perdoar a um homem que faça alguma coisa útil, conquanto que não a admire. A única justificação para uma coisa inútil é que ela seja profundamente admirada.
Toda a arte é completamente inútil.

Prefácio: O Retrato de Dorian Gray

ruím



cada vez mais
e melhor me dou conta,
que tudo é demais
que tudo o que anda à solta
é porque sou teu escravo
teu lacaio ignorante e parvo
não tenho escolha
não tenho voto
não há sequer quem me acolha
por ser por ti ser tão devoto
pois é de ti que dependo
por ti, por tudo me arrependo
e a ti não me oponho e me rendo
não consigo deixar de te ouvir
não consigo sem ti estar
és a melodia de tudo o que sinto
o som de tudo o que anseio ter
falas-me de tudo de bom
o bom que não irei receber.

fazes-me sofrer, gatinhar e implorar por perdão
não há escrúpulos para a tua acção ou razão
sou-te indiferente, menos de nada
nunca me olhaste ou me sentiste de rajada
não sabes quem sou nem quererás saber
sou tudo aquilo que te ama sem se dar a conhecer
o teu estado físico é intocável
não existes para além do que é audível
és um fantasma que passeia
nesta alma pasma e que devaneia
que sonha, não dorme e serpenteia
por todo o degredo mental e sentimental
alma que apodrece em regime sasonal
sou nada, sou pó e nada mais
que marca os caminhos da tua fuga
os caminhos e traçados por onde tu vais
eu cá me deixo, cá fiquei
com isso já em conformei
conformado, infeliz e abandonado
apenas por não me teres levado.

parte 2

lembro-me agora que anthony não era mau que chegue, ou chegasse. o meu nome, segundo a minha querida mã, seria Jean Anthony Martinez Catarino... por este andar viria a ser um gigolô ou um actor porno de renome. ainda estou a ponderar esse sacrificio. lembro-me de ter estado na alemanha, precisamente nesta altura do ano, onde a minha permanência já era de alguns meses. não conhecia nada mas sabia onde queria viver: toys r us! pedia para ir todos os dias para ver, pedinchar, berrar e chorar por todo aquele paraíso de distracções cuja observação apenas não me satisfazia... era a pura erecção pela diversão. minutos mais tarde via-me com o rabo vermelho (consequências de ser birrento). chegamos a casa, funguei o muco para dentro, lembrei-me da injustiça por mim sofrida. o megazord dos power rangers sorria para mim, eu sorria de volta. sorri para a minha mãe e ela sorriu de volta ao contrário do preço. este não sorriu para ninguém, nem para a minha mãe nem para a carteira dela. eu simplesmente não sabia interpretar o sorriso do preço. face a toda esta situação, após o funganço, não resisti em chorar pelo sucedido, não me conformava com o facto daquele brinquedo fenomenal não ser meu, decidi então tomar medidas. se o boneco não entra nesta casa eu saio! um pequeno esgar não detectável na altura surgiu em ambas as faces dos meu progenitores. ameacei sem causar qualquer tipo de reacção desejável por mim... senti-me muito mal amado. mais uma razão para abandonar o antro da insensibilidade face ao menor. estranhei a pronta disponibilidade da minha mãe em colocar-me bolachas na mochila que iria levar na minha 'fuga'. 'que merda é esta? querem ver que vou ter mesmo de fugir daqui pa fazer mossa? seja! eles que se fodam! vou procurar um casal alemão que não saiba dizer não'. nisto chegou a hora, vesti a minha parka e com uma palmadinha nas costas saí pela porta. um beijinho na testa e um adeus foram entregues antes de me fazer à estrada.

here comes the boom


a minha cabeça dói
muito para além do pensaria
muito para além do que queria
o pior é mesmo o que a dor destrói

destrói tudo o que de bom tenho
infecta tudo o que  preciso e desejo
a pressão no crânio é alta
tal como a necessidade do que me falta

tenho medo de explodir
medo por mim, pelos outros
os danos colaterais hão de surgir
o melhor será mesmo fugir
fugir de quê?
de mim digo eu
fugir porquê?
porque assim peço eu
estarei em perigo?
mais do teu lado do que do meu
quando a ira me levar
quando o odio em mim se instalar
nada bom em mim há de sobrar
apenas o que mais cruel se possa pensar
a minha sanidade já ameaça esgotar
o lado negro começou a chegar
e com ele tudo de demoníaco
vil, pérfido e apocalíptico
tudo aquilo que procuro esconder 
desespera neste mundo nascer
levando este meu débil estado
para o fundo malvado
onde tudo aquilo quer sair
e para onde estou a sucumbir
e numa queda virtiginosa
me vejo cair..

que se foda o titulo

é tão ridículo depender dos outros... quero contrariar esse triste facto mas a verdade é que me é impossível. eu posso querer expor-me ao ridículo é claro, ninguém mo obriga e até exprimo assim com maior verosimilhança a minha felicidade. posto isto, é incrível que certas e determinadas situações cuja acção é dividida entre a nossa e outra pessoa, possam influenciar com tanta força o estado de espírito. posso gritar que nem uma macaca ciosa do mato grosso (felicidade e alegria extrema portanto), mas basta ver, ouvir ou sentir algo que me traga sentimentos profundamente dolorosos e a porca torce o rabo... o turbilhar de emoções, a vontade de gritar como meio de expelir toda a raiva, a dúvida que insiste em não ter a explicação que por si agrava a intensidade da ira, a vontade primitiva de quebrar, partir, danificar tudo o que à nossa volta se situa... imóvel, ignóbil e completamente estéril... a vida que há está cá dentro sob a forma de algo maligno e demoníaco. tudo o resto morre pois não há quem ou o que satisfaça a malícia insaciável que nos habita. os que têm o poder de fazer algo contra isso nada fazem porque, ora não sabem ou não querem saber... o controlo cabe-nos a nós sabe-se lá de onde este pode vir. a dependência dos outros é relativa mas longe de ser não significativa... longe disso

why

o bicho voltou, não sei como mas tenho de o repudiar. insiste em afirmar que está preso a um fracasso de gente (eu). ob icho tem a confiança que preciso, tem a força a vontade, o 'à vontade'... tem tudo o que quero e me faz falta. o meu alter ego sim seria bem sucedido neste mundo. eu sou a carcaça que o impede de se materializar. sou o que controla o seu poder. sou um simples vassalo do que me faz extraordinário e ao mesmo tempo do que faz ser ordinário. tenho de absorver o que dele preciso. quero a força, o optimismo, a confiança, a dedicação... quero dele tudo excepto a maldade e a falta de escrupulos. a minha sorte limitar-se-á à minha vontade de mudar e melhorar. a minha sorte existiu nos limites da inexistencia e brevemente irá acabar. o que será de mim? tudo menos que nada... vou sê-lo porque já o sou há muito

parte 3

sou independente! pensei eu, em cima de neve que me acariciava os pés com um um frio na ordem das dezenas negativas. a sensação de independência pouco duro à medida que o vento gélido ia soprando. eu tremelicava de medo, de frio. os pinheiros jovens alinhados abanavam-se ritmicamente ao som dos assobios sombrios. dei uns poucos passos na ideia que era 'naquela' direcção que o meu futuro me esperava. era naquela direcção que me iriam trazer porções da toys r us para que me pudesse deliciar com as tentações infantis que a época natalícia tinha para oferecer. aquele megazord era mesmo por mim desejado, desejo este que não era partilhado pelos meus progenitores que nada desejavam uma fuga de unidades monetárias (marcos na altura). valerá mesmo a pena sacrificar o calor do meu lar? o calor humano dos meus papás?... o megazord fazer-me-á assim tão feliz? talvez... mas de momento estou quase criogenicamente conservado e não me apetece, muito sinceramente, acordar neste corpo daqui a 50 anos. vamos lá para dentro? - pensava eu de mim para mim - vamos sim senhor! (queria mesmo usar esta expressão). e fui... e logo que bati à porta imaginei o gozo dos meus pais ao ouvirem o 'toque toque', imaginei-os a rirem-se à minhas custas e senti-me humilhado pelo meu claro e óbvio fracasso. terei de pensar numa maneira mais eficiente de fazer birra, de preferência que não envolva actividades exteriores enquanto circulam 'brisas' de 20ºC negativos. no próximo capitulo: o coelho de chocolate de 3 kg. até lá... paciência

flatline


a raiva consumiu
o que a ira destruiu
é o mal que emerge
neste monstro que surgiu
são momentos de mau estar
que o fazem tudo odiar
tudo é injusto, é tudo um pesar
nada pelo que valha a pena lutar
um oceano de infelicidades
desprazeres e inconformidades
um pico de agonia faz o monstro gritar
o desconforto é o seu vestido
vestido pelo que sente
sente o momento  presente 
dilacerando o passado
profetizando um futuro
que nada tem de confortante
o bicho evade-se
criando caos e Apocalipse
deixa rasto de destruição,
pegadas de cataclismo,
no meio desta mente
caída num grande abismo
para onde o bicho há de voltar,
há de ser exilado
mas até lá voltar a repousar...
possuí o que sou
e polui o meu estado

?


é bom gritar para ser ouvido


melhor é ser ouvido sem ter de falar


tenho quem me ouça


mas porque só quero eu gritar?


(...)

.



fui, olhei, não fiquei e voltei
voltei pra saber que não gostei
voltei para dizer que cheguei
tampouco quis ficar e parti
rumo à bifurcação onde parei
ouvi, vi, li e senti
os sinais não evidentes
o meus passos pendentes
passos que à estrada dei
e ao meu rumo entreguei
e naquela bifurcação,
a tal onde parei em vão,
acabei por olhar para trás
Dar meia volta e regressar, 
para onde? pensei eu...
Para onde quer que seja o meu lugar

~^


e nos campos abertos
da minha mente andei,
tropecei no que parecia
ser uma raiz de azia
ervas daninhas de malícia
e travos doces de atrofia
e claro a insaciavel preguiça
que me alicia e avisa
como um murmurar da consiciencia
que por vezes não se quer fazer ouvir
este murmurar da razão
que escolho proibir, banir
mas que no meio da confusão
se faz emergir
e tudo isto se passa
sem sequer eu sentir
é involuntário mas perceptivel
não arbitrário mas compreensível 
quero acordar desesperadamente
para voltar a dormir
reiniciar os devaneios
que me fazem subir, ascender
mas que no fundo
nunca irei perceber
tal como tudo o que acabei de escrever..